segunda-feira, 31 de março de 2008

Ainda em Angola

Depois de ter ficado na sonda à espera de notícias sobre o meu passaporte, foi decidido que seria altura de sair de lá e vir para Luanda, uma vez que os 40 dias a bordo já estavam a causar estragos no meu ânimo e concentração. Assim aconteceu, no sábado, pelo que passei este fim-de-semana na capital.
Apesar de serem umas férias forçadas, não podia deixar passar esta oportunidade para conhecer um pouco da cidade. De modo que aproveitei para fazer um pouco de praia na zona da Ilha e conhecer as locais de diversão nocturna. Foi bom descansar um pouco e relaxar dos dias de isolamento.
O stress de não saber quando vou sair daqui e voltar a casa não me saem do pensamento mas tenho tentado não me deixar afectar demasiado com esta lamentável situação que só vem corroborar o que disse anteriormente sobre a falta de organização e a burocratização das instituições. O que me deixa mais revoltado é o facto de outros colegas, que chegaram duas semanas depois de mim, já terem os vistos de trabalho e, por conseguinte, os passaportes prontos, e o meu ter, simplesmente, ficado esquecido ou perdido. A desculpa de que o sistema informático complicou a acção dos serviços não é suficiente, uma vez que outros pedidos posteriores já foram tratados.
De qualquer forma, tenho a convicção de que este problema será resolvido ainda esta semana e que poderei ainda chegar a tempo de ultimar os preparativos para o casamento. Pois, porque o meu grande motivo para sair daqui rapidamente é precisamente o compromisso que tenho em breve. Não é possível deixar de pensar que esta situação se pode prolongar e causar problemas graves aos quais não saberia a quem pedir responsabilidades.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Primavera a bordo

Apesar do dia de hoje não ter sido de boas notícias, a verdade é que, como me lembrou a minha grande amiga Claudia, hoje começa mais uma Primavera. Por sugestão dela, deixo aqui um pequeno registo do meu primeiro dia de Primavera a bordo de uma plataforma. Neste ponto do Mundo, agora começa aquilo a que se pode chamar de Outono. No Hemisfério Sul, as estações são ao contrário, mas os meus sentidos estão na parte Norte do globo. E se o tempo em Portugal começa agora a aquecer, as flores a desabrochar e a vida a renovar-se, por aqui o calor continua e continuará, pois frio é algo que nunca se sente por estas bandas e, se bem que não possa ver árvores e plantas, sei que a vida permanence bem presente, que o verde luxuriante dos trópicos não se esconde, antes se manifesta a cada passo.

Falando mais sobre aquilo que está ao alcance da minha visão, verifico que os animais marinhos prosseguem a sua jornada, tranquilos nas águas, fazendo as suas visitas constantes, dando-nos o prazer da sua companhia. Para falar verdade, os únicos seres vivos que se aproximam daqui, além dos humanos, são mesmo os peixes que, curiosos e atraídos pela luz nocturna ou pela comida despejada, tornam os nossos dias mais felizes, mostrando-nos que não somos os únicos a desfrutar daquilo que a Natureza colocou ao nosso dispor.

A minha visão pode estar limitada ao grande oceano mas o meu pensamento encontra-se no cantinho onde cresci, aquele que agora renasce de vida e de alegria. Além do mais, sei que esta Primavera vai ser especial, que a felicidade vai inundar ainda mais o meu mundo, que é o mesmo de todos aqueles que me têm no pensamento. Para todos esses, uma Feliz Primavera!

Últimos dias

Já não é a primeira vez que me acontece mas, mais uma vez, os últimos dias de estadia na sonda são de pouco trabalho, o que aumenta, ainda mais, a vontade de regressar a casa. Depois de alguns dias de intenso trabalho, com perfuração, intercalada por uma operação de coring, em que se recupera uma amostra “intacta” de alguns metros de rocha e que dá mais indicações sobre as características das formações, chega agora o momento de descanso para nós, na unidade, enquanto se aguarda pelos logs que estão a ser efectuados (wireline logging) e pela próxima fase de perfuração.

Neste interregno, está prevista a minha crew change, pelo que conto ir para casa nos próximos dias. A única coisa de que dependo, uma vez que já tenho a confirmação de que o colega que me virá substituir estará a caminho amanhã, é do visto no passaporte, pois, segundo informações da base, os Serviços tiveram problemas informáticos e ainda não deram andamento ao meu processo. Pelos vistos, a herança deixada pelos portugueses, inclui a burocracia; ao mesmo tempo que em Portugal se começa agora a inverter a tendência de burocratização em alguns sectores, por aqui ainda vigora o “(des)funcionalismo público”. O que vale é que esta será a última vez (assim espero…) que estarei dependente de vistos, aqui em Angola, pois este já será um visto de trabalho, válido por um ano e renovável.

De qualquer forma, fazendo um balanço deste mês, penso que evoluí tecnicamente, em alguns aspectos, uma vez que encontrei equipamentos novos e tive de aprender a utilizá-los, ao mesmo tempo que vi e acompanhei operações diferentes, como o coring. Por outro lado, trabalhei em condições mais difíceis do que estava habituado, o que influenciou um pouco o meu estado de espírito, embora não o suficiente para me fazer desanimar em algum momento. A minha força de vontade é superior às dificuldades e não tremo perante a dureza do trabalho que escolhi. Também tenho um motivo forte para ir embora: o evento que se aproxima a passos largos deixa-me ansioso e talvez tenha sido isso que me fez sentir um pouco mais de saudade e tensão. Saber que os últimos pormenores do casamento têm de ser tratados e eu só podendo dar opiniões e não podendo fazer muito mais, tornaram estas semanas mais complicadas. No entanto, tenho tido a felicidade de ter comunicação e conseguir acompanhar tudo. Além disso, sei que os assuntos estão entregues nas melhores mãos e que tudo vai suceder como desejamos.
Update: Logo no dia em que escrevo no blog sobre os meus últimos dias, recebo a informação de que afinal os Serviços de Migração e Estrangeiros não trataram ainda (?) do meu visto e que vou ter que ficar até dia 28 a bordo. Mas vou actualizando por aqui a situação...

sexta-feira, 7 de março de 2008

Perfuração e café

Estes últimos dias foram de algum trabalho, o que é bom, para variar. Este pensamento pode parecer estranho mas a verdade é que o tempo passa mais depressa quando há algo para fazer.
Neste poço que estão a furar, a quantidade de amostras que temos que preparar é bastante. No entanto, o intervalo de amostragem é alargado e, uma vez que não furam com grande velocidade, não é necessário ”correr” muito… Também tenho de reconhecer que a ajuda do sample catcher é preciosa e permite que me possa dedicar mais a ajudar o Data Engineer, verificando parâmetros, preparando relatórios e monitorizando o sistema de gás.
Esta imagem mostra a “lama”, com os cuttings, a chegar aos shale shakers (lembra chocolate, mas não é!). A este local dá-se o curioso nome de possum belly e é aqui que são colocados os equipamentos que nos permitem recolher dados sobre os níveis de hidrocarbonetos atravessados.

Numa unidade de Mudlogging com portugueses e/ou italianos, não pode faltar o café. Para o preparar, é necessário alguma criatividade e o pequeno fogão eléctrico em que se secam as amostras é o local apropriado para isso.

Desta vez, fui eu quem trouxe a cafeteria (oferta da Tia Alice – Obrigado, tia!), pois já sei que todos querem café mas todos esperam que seja o outro a lembrar-se!

Ao fim de um dia de perfuração, com amostras para recolher e sistema de gás para controlar, a sujidade é incontornável, ainda para mais neste caso em que a “lama” é à base de óleo. O calor que faz, principalmente nos shale shakers, também faz os seus estragos.


Nada melhor, depois de 12 horas num vai-vem constante, do que um banho morno (sim, já temos água quente…) para acalmar o corpo e um sono tranquilo para recuperar forças. Nem o barulho ou o movimento da sonda me roubam esse prazer de adormecer sentindo que valeu a pena mais um dia longe dos que amo. E que também é menos um para voltar a estar perto deles…