sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Eleições

Na passada sexta-feira, aqui em Angola, realizaram-se as segundas eleições legislativas livres, desde a independência do país, 16 anos depois das primeiras, que ocorreram num clima de tréguas, durante uma guerra que despedaçou muitas famílias e um país riquíssimo em recursos naturais. Depois dessas primeiras eleições, a guerra voltou e, dessa forma, o governo encontrou uma desculpa para não realizar nova consulta popular durante todo este tempo, alegando não existirem condições para que o processo decorresse de forma democrática e livre. A partir de 2003, reestabeleceu-se a paz e foram precisos mais 5 anos para que, finalmente, o dia chegasse.

O povo respondeu em massa, segundo rezam as crónicas, mas o resultado parece-me, a mim que não tenho nada a ver com isso, desapontador. Uma maioria esmagadora de um partido, tirando, mais uma vez, o espaço a debate e a confronto de ideias e ideais. Para nós, que vivemos numa democracia mais livre, não é concebível que haja um poder absoluto, sem possibilidade de oposição. Mesmo que seja a vontade popular, condicionada ou não por questões que limitam a liberdade de expressão daqueles que têm convicções ou propostas diferentes, esta não será a opção que trará o progresso e evolução pela qual eles mesmo anseiam. A sensação que me dá é que a maioria da população votou no partido do poder como forma de agradecimento por ter colocado um fim na guerra, preferindo ignorar as atrocidades cometidas por todas as partes durante o conflito.

A máquina democrática continua a precisar de ser construída e apenas as próximas gerações poderão mudar a situação, pois não terão a vivência traumática da guerra, limitadora de consciências e mentalidades. Uma mudança profunda na sociedade angolana só poderá suceder quando houver lugar para um debate sério e sem vícios, e quando a população estiver preparada para compreender a importância da pluralidade num sistema que se diz democrático.

É claro que isto são apenas as minhas opiniões, porque a minha esperança é que, já neste ciclo legislativo, seja possível ver uma mudança de orientação daqueles que foram mandatados para decidir os destinos dos angolanos. Julgo ser necessário um milagre, pois deixar de olhar para o nosso umbigo dá trabalho e poucos ou nenhuns estão disponíveis para isso.