domingo, 15 de agosto de 2010

Novamente, no continente do futuro

Dsede Março que não escrevo. Preguiça, falta de novidades, sei lá...

Entretanto, fiz novo turno, entre Abril e Maio, voltei a casa para partir de seguida para uns dias à descoberta de Paris, tendo ficado, depois, mais algum tempo em casa, com a oportunidade de ver o Mundial de Futebol do início ao fim... Neste momento, já me encontro há 3 semanas no Congo, sobrando ainda 4 semanas para voltar a casa, se tudo correr normalmente.

Depois de termos furado a um ritmo alucinante e fora do normal, agora esta fase é um pouco mais calma.

Para mim, estes turnos em terra têm sido agradáveis. Naturalmente, continuo a preferir offshore, mas acabei por encontrar aqui razoáveis condições: à falta de um ginásio, tenho a estrada para correr, pelo que continuo a manter a minha forma física; um quarto individual, mesmo que não seja 5 estrelas, é melhor do que ter que partilhar com desconhecidos; a comida, mesmo não tendo os padrões de qualidade a que me habituei nos últimos tempos, não é má de todo, não faltando o essencial; as pessoas são afáveis, na sua grande maioria, e tenho criado boas relações com todos os colegas. Em suma, as minhas dúvidas quanto à mudança para o trabalho em terra, estão de certo modo, dissipadas. Arestas há que limar, como em todo o lado, mas não tenho grandes razões de queixa.

Em termos de comunicações, ficam um pouco mais caras, uma vez que as chamadas telefónicas saem do meu bolso. A rede de telemóvel não é má e utilizo ainda uma ligação por banda larga móvel à internet (esta paga pela empresa). Mesmo não tendo capacidade suficiente para a utilização do skype, pelo menos consigo estar em contacto com o mundo, na grande parte do tempo.

Hoje comemora-se, um pouco por toda a República do Congo, os 50 anos da independência do país. Foi em 15 de Agosto de 1960 que este país se libertou da colonização francesa. De lá para cá, muito mudou, umas coisas para melhor, outras para pior. Tal como aconteceu com outros países com situações semelhantes, também este passou por diferentes fases, do marxismo-leninismo, à guerra civil, à luta pelo poder, à abertura à economia de mercado. Mas, passados estes anos todos, o povo continua a lutar pela sobrevivência, enquanto alguns, poucos, vivem no luxo, à custa do aproveitamento da riqueza do país para enriquecimento pessoal. É uma história já contada, vezes sem conta, mas para a qual os países ditos desenvolvidos, e neste caso particular, os europeus, continuam a fechar os olhos, pois não seria prudente puxar o tapete aos poderosos do país e perder os benefícios que têm obtido.

Nem tudo é mau, no entanto. Sobretudo, as pessoas. A sua alegria e simpatia. Mesmo com muito pouco, esforçam-se por ser felizes. Apenas precisam de acordar da letargia que o poder central lhes impingiu e começar a exigir as mudanças que merecem: melhores infraestruturas, habitação condigna, acesso à educação, desenvolvimento industrial (sem ser o da indústria extractiva e do seu lobby). Com um pouco mais e tenho a certeza que África é mesmo o continente do futuro... E eu cá espero estar para o viver...