A bordo do semi-submersível M.G. Hulme Jr., a vida corre sem muito que fazer, uma vez que as operações não nos dizem respeito, neste momento. Dentro de alguns dias, será retomada a furação e aí começará o trabalho a sério.
Esta paragem que decorre desde o dia em que cheguei, foi benéfica para mim, uma vez que me permite inteirar-me sobre a sonda, a unidade e todos os procedimentos a bordo.
As condições de vida não são exemplares, embora também não me possa queixar: a comida é boa, a lavandaria funciona bem e o barulho no quarto, que fica localizado fora da área normal das acomodações, até nem é muito, permitindo um bom descanso. Os maiores problemas, do meu ponto de vista, são as casas-de-banho, incluindo os chuveiros, pois não existe água quente (como é evidente, o calor que aqui faz, não nos impede de tomar banho com água fria), e o facto de as comunicações não serem as ideais, uma vez que há apenas um computador partilhado ligado à internet e que está sempre ocupado. Dentro de alguns dias, julgo que teremos internet na unidade mas, para já, não me resta outra alternativa senão tentar a sorte… Em todo o caso, na unidade existe um telefone, o que, pelo menos, permite ligar à família algumas vezes por semana.
Antes de vir para a sonda, ainda passei um dia em Luanda, onde tive a oportunidade de passear um pouco. Ainda não foi desta vez que visitei os pontos mais turísticos, mas voltei a confirmar a sensação que tinha tido na anterior viagem: a cidade, e o país, em geral, tem muito para crescer e evoluir, quer ao nível das infraestruturas, quer ao nível da consciência da população. O trânsito é impossível de suportar, as estradas, se é que se pode chamar isso a algumas delas, encontram-se num estado deplorável, o lixo acumula-se em frente às pobres casas dos bairros caoticamente organizados, as pessoas deambulam sem ordem nem sentido aparente, num país com tantos recursos e onde a miséria continua a conviver paredes-meias com o consumismo e a ostentação. Apesar disto, as pessoas, duma forma geral, parecem viver numa aparente tranquilidade, que eu diria própria de uma África que procura o seu rumo, sem perder a alegria de viver.
A verdade é que começo a simpatizar com esta gente, de modos tão característicos. Não que alguma vez tivesse tido algum tipo de antipatia ou desconsideração, mas, quanto mais conheço as pessoas, melhor entendo a sua forma de vida e a luta que travam para se equipararem ao chamado “mundo civilizado”. Talvez os objectivos e os métodos de cada um não sejam aqueles que poderíamos esperar mas há que reconhecer que a sua capacidade de sobrevivência impressiona.
A Guerra Civil que assolou este país pode justificar muita coisa mas, a bem da verdade, os anos vão passando e as mudanças radicais que são necessárias continuam a processar-se lentamente, por incompetência, incapacidade ou irresponsabilidade. Segundo sei, Angola é o país de África com o crecimento económico mais acelerado, nos últimos anos, embora isso não seja visível ao nível das condições de vida da generalidade da população. Desejo, por mim, que tenciono vir para cá durante algum tempo mais, e pelas pessoas que sonham com uma Angola evoluída, que os investimentos sejam aplicados de forma correcta e que se criem as condições para um crescimento sustentado e sustentável.